Necrobiopolítica de gênero no Brasil contemporâneo: o feminicídio em tempos de fascismo social

Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, Joice Graciele Nielsson

Resumo


A partir do aumento dos casos de feminicídio no Brasil contemporâneo, configurando-se um cenário de produção de morte de mulheres no âmbito familiar/doméstico, o presente estudo tem como objetivo geral analisar a possibilidade de estabelecimento de uma relação entre “necropoder” e “biopoder”. O problema de pesquisa pode ser assim sintetizado: em que medida a necrobiopolítica tem atingido corpos femininos, utilizando “estereótipos de gênero” para produzir o controle e a gestão da vida e, paralelamente, a intensificação da necropolítica pela produção da morte sistemática como forma de exercício último de soberania e poder em um contexto marcado pelo biopatriarcalismo? O texto encontra-se dividido em duas seções: a primeira ocupa-se do estabelecimento de conceitos-chave e da construção da relação entre biopatriarcalismo e necrobiopolítica — concebidos como chaves teóricas para a compreensão da produção de violência contra os corpos femininos na contemporaneidade; a segunda seção ocupa-se em analisar como o feminicídio, no contexto brasileiro, pode ser compreendido enquanto expressão máxima do biopatriarcalismo e da necrobiopolítica de gênero. O método de pesquisa empregado na investigação é o fenomenológico-hermenêutico.

Palavras-chave


Violência de gênero; Feminicídio; Biopolítica; Necropolítica; Patriarcalismo.

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v10i2.6544

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