Barreiras linguísticas no direito internacional: um fator de desigualdade entre o norte e o sul global

Fabrício José Rodrigues de Lemos

Resumo


O Direito Internacional tem sido há muito considerado uma disciplina de crise. Apesar de ser a pedra angular da governança global, a temática mostrou-se despreparada para lidar com desigualdades em sua própria criação, com a frequente marginalização de pesquisadores do Sul Global devido à barreira linguística. O amplo uso do idioma inglês no discurso jurídico internacional tem dificultado a contribuição efetiva de estudiosos não fluentes em inglês para o campo. Como resultado, a teoria jurídica do Norte Global tem se limitado à leitura e citação de autores que publicam em inglês, agravando ainda mais a marginalização de pesquisadores do Sul Global. Para enfrentar essa crise, os acadêmicos do Norte Global devem primeiro reconhecer suas próprias limitações ao desafiar as injustiças estruturais na criação do direito internacional. Eles também devem reconhecer a necessidade de uma comunidade jurídica internacional diversificada e inclusiva, capaz de representar melhor os interesses de pesquisadores do Sul Global e, consequentemente, dos povos do Sul Global. Por meio de pesquisa bibliográfica, o presente artigo busca aprofundar o tema e compreender o problema, com o objetivo de promover uma maior representação e inclusão no discurso jurídico internacional - isso requer uma reavaliação de como a pesquisa jurídica internacional é conduzida e como as línguas não dominantes podem ser mais bem integradas à disciplina. Em última análise, o objetivo deve ser criar uma comunidade jurídica mais diversificada e inclusiva que possa abordar de maneira mais eficaz os desafios complexos enfrentados pelo mundo hoje. Em conclusão, este artigo defende a urgente necessidade de enfrentar a crise de marginalização e desigualdade que persiste na criação e sustentação do Direito Internacional.

Palavras-chave


Direito Internacional; Barreira linguística; Discurso jurídico; Injustiças estruturais; Desigualdade

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DOI: https://doi.org/10.5102/rdi.v21i2.9388

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