Racismo e sofrimento psíquico: desafios e perspectivas na atuação de psicólogos(as) negros(as)

Luísa Arcoverde Bezerra Soares, Carmen Lucia Melo De Souza, Lucas Alves Amaral

Resumo


Esta pesquisa surge de inquietações relacionadas ao sofrimento psíquico gerado pelo racismo. No Brasil, vivenciamos o enraizamento do racismo estrutural, ainda que mais da metade da população seja negra. A atuação da psicologia frente ao combate a discriminação racial faz parte do Código de Ética profissional. Entretanto, a história da profissão é marcada pela ênfase na saúde mental de pessoas brancas. A construção da Psicologia, em uma perspectiva eurocentrada, traz implicações para a atuação profissional frente ao racismo até os dias de hoje. As demandas da população negra foram, por muito tempo, desvalorizadas, resultando em um despreparo dos profissionais em acolher e legitimar o sofrimento psíquico derivado das vivências raciais. O objetivo desta pesquisa foi compreender os desafios e as perspectivas de psicólogos (as) negros (as) no que se refere à atuação profissional relacionada as relações raciais. O método da pesquisa foi qualitativo, utilizando como instrumento entrevistas semiestruturadas. A pesquisa envolveu um trabalho de campo de três meses com sete
profissionais da psicologia negros (as), atuantes em atendimento clínico no Distrito Federal. Os (as) entrevistados (as) foram recrutados (as) por amostra por conveniência, através da rede de relações profissionais dos pesquisadores. A seção discussão foi dividida em dois eixos temáticos, sendo eles: (I) Perspectivas e desafios da trajetória de formação e como sujeito negros; (II) Estratégias de atuação profissional no atendimento a pessoas negras. No primeiro eixo, os resultados apontam para a invisibilidade da temática das relações raciais nos espaços acadêmicos, tanto no que diz respeito aos aspectoss teóricos das abordagens psicológicas, bem como pela quantidade de estudantes negros presentes na graduação. Assim, defende-se a descolonização da psicologia, através do fortalecimento da interface entre psicologia e relações raciais, que pode contribuir para mudanças na grade curricular, incluindo autores (as) negros (as) no currículo de Psicologia. E, para além disso, incorporar na graduação produções científicas sobre a temática e alguns dos principais psicólogos (as) negros (as) que têm abordado esse fenômeno na prática profissional. No segundo eixo, discutiu-se a importância do reconhecimento do racismo e seus desdobramentos na saúde mental da população negra. Além disso, trata-se do dever da categoria profissional em rever as práticas de atuação tradicional. Nas considerações finais, tecemos comentários o fato de que a pesquisa nos aponta que a construção de uma Psicologia antirracista deve ser praticada por todos (as) profissionais, brancos (as) e negros (as).


Palavras-chave


racismo; sofrimento psíquico; psicologia.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2019.7514

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