Doação de Órgãos: nudges podem ajudar?

Benjamin Miranda Tabak, Ângela Maria de Oliveira

Resumo


O objetivo deste artigo é investigar o uso de nudges aplicados à doação de órgãos para transplantes após a morte diante da alta recusa das famílias. A metodologia contemplou a coleta de dados, publicações e relatórios de pesquisa das principais entidades no assunto, seleção dos principais conteúdos, análise e conclusão. A base de dados científica principal foi a Scopus. Na revisão bibliográfica são apresentadas as ideias dos principais teóricos no assunto como Daniel Kahneman & Tversky, Richard Thaler & Cass Sunstein, além de outros autores igualmente respeitados e suas pesquisas sobre o tema. As três principais abordagens encontradas são o consentimento explícito (opt-in), o consentimento presumido (opt-out) e a escolha mandatória (mandatory choice). Entre os principais achados está que a doação de órgãos é mais bem explicada pela preguiça do Sistema 2, de resposta lenta do cérebro; a pesquisa de Johnson & Goldstein demonstrou o impacto significativo na doação de órgãos da política opt-in e opt-out; as taxas para consentimento presumido são duas vezes mais altas do que as de consentimento explícito; e a maior causa da não concretização da doação de órgãos de potencias doadores notificados no Brasil tem sido a recusa das famílias. Concluímos que nudges podem auxiliar no aumento do número de doadores e a política de doação presumida pode ser adotada também no Brasil semelhante ao que ocorre de forma exitosa em outros países, desde que haja mecanismos de controle, acompanhamento e treinamento contínuo das equipes envolvidas.

Palavras-chave


Políticas Públicas; Doação de Órgãos; Nudges; Opt-out; Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v14i2.8778

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