O novo constitucionalismo latino-americano e os povos indígenas: a visão do direito a partir dos caleidoscópios e dos monóculos

Lucas Silva de Souza, Valéria Ribas do Nascimento, Isadora Forgiarini Balem

Resumo


O presente trabalho visa expor o quanto o novo constitucionalismo latino-americano se mostra como um avanço para a teoria constitucional ao apresentar grande preocupação com as populações sonegadas pela história, o meio ambiente e a diversidade como um todo. Para tanto, se dividirá em duas partes. Na primeira, será realizada uma breve abordagem das múltiplas concepções do “neoconstitucionalismo” almejando demonstrar que, mesmo sendo um conceito polissêmico, seus significados e significantes apresentam como fio condutor a inserção social por meio de práticas democráticas. Ao delimitar-se no constitucionalismo latino-americano, será exposto o protagonismo dos povos indígenas, mormente no Equador e na Bolívia. Razão pela qual, na segunda parte da pesquisa será realizado o estudo conjunto de suas constituições, assim como o tratamento brasileiro às populações autóctones. Com isso, gera-se os seguintes questionamentos justificadores de sua originalidade: o novo constitucionalismo latino-americano inova na proteção aos povos nativos ou permanece arraigado à visão monofocal de outrora, que lhes nega voz e participação? Quais os traços distintivos e as similitudes entre o constitucionalismo andino do Equador e da Bolívia e o que o Direito Constitucional pátrio poderia aprender com eles? Para respondê-los, valer-se-á do método de abordagem dialético e da metodologia fenomenológica. Conclui-se que as constituições equatoriana e boliviana, por recuperarem o conhecimento e as ideias tradicionais da coexistência do homem em harmonia com a natureza, são fontes inspiração para países, como o Brasil, os quais, ainda que tutelem esses povos, se limitam à uma visão monocular e não plural como a do “caleidoscópio” andino.

Palavras-chave


constitucionalismo latino-americano; democracia; direito constitucional; meio ambiente; neoconstitucionalismo; povos indígenas.

Texto completo:

PDF

Referências


ARAUJO, Ana Valério. Povos indígenas e a lei dos “brancos”: o direito à diferença. Brasília: Ministério da Educação, 2006. Disponível em: Acesso em 30 mai. 2019 p. 77.

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito (o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). In: Revista de Direito Administrativo. Disponível em . Acesso em: 08 mai. 2019.

BOLÍVAR, Simón. Escritos Políticos. Campinas. Editora da Unicamp, 1992.

BOLÍVIA. Constituición Politica del Estado. Disponível em: Acesso em: 13. mai. 2019

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > Acesso em: 30 mai. 2019.

CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2002.

CARBONELL, Miguel (ed). Neoconstitucionalismo(s). 2. ed. Madrid: Editorial Trotta, 2005.

CARBONELL, Miguel (ed). Teoría del neoconstitucionalismo. Ensayos escogidos. Madrid: Editorial Trotta, 2007.

CAVALLAZZI, Vanessa Wendhausen; MELLO, Patrícia Perrone Campos; SOARES, Raony. Educação superior intercultural, reconhecimento e redistribuição: o duro caminho dos povos indígenas no Equador. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 15, n. 1, 2018 p.179-198.

COLAÇO, Thais Luzia. Os direitos indígenas a partir da Constituição Brasileira de 1998. In: WOLKMER, Antonio Carlos; MELO, Milena Petters. Constitucionalismo latino-americano: tendências contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013, p. 191-211.

EQUADOR. Constitución política del Ecuador. Disponível em . Acesso em: 13 mai. 2019.

EQUADOR. Tribunal Constitucional Plurinacional. La Acción de Inconstitucional Abstracta Interpuesta Por Pedro Nuny Caity, Diputado de La Asamblea Legislativa Plurinacional; Demandando La Inconstitucionalidad de La Disposición Adicional Séptima de La Ley 211 de 23 de Diciembre de 2011 Ley del Presupuesto General del Estado - Gestión 2012, Por Ser Presuntamente Contraria A Los Arts. 14, 30.ii. 15, 343, 403, 410 y 411 de La Constitución Política del Estado (cpe). nº 2056/2012. Relator: Soraida Rosario Chánez Chire. La Paz, 2012. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2019.

EDUCALINGO. In:. Acesso em: 16 mai. 2019.

FAGUNDES, Lucas Machado. Reflexões sobre o processo constituinte boliviano e o novo constitucionalismo sul-americano. In: WOLKMER, Antonio Carlos; MELO, Milena Peters. Constitucionalismo latino-americano: tendências contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013. p. 153-168.

FAJARDO, Raquel Z. Yrigoyen. El horizonte del constitucionalismo pluralista: del multiculturalismo ala descolonización. In: GARAVITO, César Rodríguez (Org.). El derecho en América Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del Siglo XXI. Buenos Aires: Grupo Editorial Siglo Veintiuno, 2011. Cap. 6. p. 139-159.

FIORAVANTI, Maurizio. Constitución: da la antigüedad a nuestros días. Traducción de Manuel Martínez Neira. Madrid: Editorial Trotta, 2001.

G1. Em vídeo, deputado diz que índios, gays e quilombolas 'não prestam': imagens foram gravadas em novembro de 2013 em Vicente Dutra, RS. Deputado federal gaúcho disse que declarações foram 'força de expressão'. 12 fev. 2014. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2019.

HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991.

HOLANDA, Fábio Campelo Conrado de. Políticas públicas e etnodesenvolvimento com enfoque na legislação indigenista brasileira. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 5, Número Especial, 2015 p. 374-390 p. 387

HUALPA, Eduardo R. Los sujetos indígenas em la constituición. In: GARGARELLA, Roberto. La constitución en 2020: 48 Propuestas para una sociedad igualitária. Buenos Aires: Grupo Editorial Siglo Xxi, 2011. p. 156-168.

LASSALLE, Ferdinand. A essência da constituição. Prefácio de Aurélio Wander Bastos. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2001.

MARIATEGUI, José Carlos. El problema de la tierra. Disponível em: < https://philarchive.org/archive/ATWTSO> Acesso em: 30 mai. 2019

MATTEUCCI, Nicola. Organización del poder y libertad. Traducción de Francisco Javier Ansúategui Roig y Manuel Martinez Neira. Madrid: EditorialTrotta, 1998.

McILWAIN, Charles Howard. Constitucionalismo antiguo y moderno. Traducción de Juan Solozábal Echavarría. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1991.

MELO, Milena Petters. As recentes evoluções do constitucionalismo na América latina: neoconstitucionalismo? In: WOLKMER, Antonio Carlos; MELO, Milena Petters. Constitucionalismo latino-americano: tendências contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013.

MORAES, Germana de Oliveira; Freitas, Raquel Coelho. O novo constitucionalismo latino-americano e o giro ecocêntrico da constituição do Equador de 2008: os direitos da pachamama e do bem viver (Sumak Kawsay). In: WOLKMER, Antonio Carlos; MELO, Milena Peters. Constitucionalismo latino-americano: tendências contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013. p. 103-125

NASCIMENTO, Valéria Ribas do. O tempo das reconfigurações do constitucionalismo: os desafios para uma cultura cosmopolita. São Paulo: LTr, 2011.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conselho de Direitos Humanos. Attacks against and criminalization of indigenous peoples defending their rights. 2018 Disponível em: < http://unsr.vtaulicorpuz.org/site/index.php/en/documents/annual-reports/251-report-hrc2018> Acesso em: 24 mai. 2019

PERRA, Livio. Naturaleza y constituición. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 7, n. 1, p.183-196, abr. 2017. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2019.

RAMÍREZ, Silvina. Matriz liberal de la constituición y protección de los derechos de los pueblos originários. In: GARGARELLA, Roberto. La constitución en 2020: 48 Propuestas para una sociedad igualitária. Buenos Aires: Grupo Editorial Siglo Xxi, 2011. p. 143-169.

SIEDLER, Rachel. Pueblos Indigenas y derecho(s) en América Latina. In: GARAVITO, César Rodríguez (Org.). El derecho en América Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del Siglo XXI. Buenos Aires: Grupo Editorial Siglo Veintiuno, 2011. Cap. 13. p. 303-321.

SIGNIFICADO DE CALEIDOSPÓCPIO. Disponível em: . Acesso em: 16 mai. 2019.

SILVA FILHO, José Carlos Moreira da. Da “invasão” da América aos sistemas penais de hoje: o discurso da inferioridade latino-americana. In: WOLKMER, Antônio Carlos (Org.) Fundamentos de História do Direito. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.

STRECK, Lenio. (Neo)constitucionalismo. In: ALVIN, Eduardo Arruda; LEITE, George Salomão; STRECK, Lenio. Curso de Direito Constitucional. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.

TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

UPRIMNY, Rodrigo. Las transformaciones constitucionales recientes em América Latina: tendência y desafíos. In: GARAVITO, César Rodríguez (Org.). El derecho en América Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del Siglo XXI. Buenos Aires: Grupo Editorial Siglo Veintiuno, 2011. Cap. 5. p. 109-137.

VIEIRA, Oscar Vilhena. Desigualdad estructural y estado de derecho. In: GARAVITO, César Rodríguez (Org.). El derecho en América Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del Siglo XXI. Buenos Airees: Grupo Editorial Siglo Veintiuno, 2011. Cap. 13. p. 25-46.

WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo crítico e perspectivas para um novo constitucionalismo na América Latina. In: WOLKMER, Antonio Carlos; MELO, Milena Peters. Constitucionalismo latino-americano: tendências contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013. p. 19-42.

YAMADA, Erica. Direitos Humanos e povos indígenas. Relatório da Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas da Plataforma de Direitos Humanos - Dhesca Brasil Mandato 2015-2016. Curitiba: Dhesca Brasil, 2017. Disponível em:< http://www.plataformadh.org.br/wp-content/uploads/2017/04/Relatório-DH-e-Povos-Ind%C3%ADgenas-INTERNET-2.pdf> Acesso em 30 mai. 2019.




DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v9i2.6054

ISSN 2179-8338 (impresso) - ISSN 2236-1677 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia