Consiliência e a possibilidade do neurodireito: da desconfiança à reconciliação disciplinar

Thaís de Bessa Gontijo de Oliveira, Renato Cesar Cardoso

Resumo


O artigo tem por objetivo revisitar a origem do afastamento disciplinar que ocorre entre as Ciências Naturais, Ciências Sociais e Humanidades. Esse afastamento levou ao atual modelo de hiperespecialização que, embora tenha impulsionado um notável avanço em cada uma das disciplinas, teve como consequência a fragmentação do próprio conhecimento e a perda da coerência entre cada uma dessas partes. Esse modelo mostra sinais de esgotamento, já que não é capaz nem enfrentar questões filosóficas fundamentais, nem tampouco de apresentar soluções satisfatórias para os grandes problemas humanos de contemporâneos. Nesse contexto, apresenta-se a Consiliência, que propõe a recuperação da coerência entre todos os ramos do conhecimento, tanto na tarefa de conhecer nossa própria humanidade, quanto na tarefa de apresentar respostas a esses grandes problemas. Como conclusão, percebeu-se que, para o Direito, esse movimento de aproximação pode ter consequências disruptivas, já que as explicações das Ciências Cognitivas para o comportamento humano podem desafiar noções fundamentais com as quais o Direito opera. Equacionar tudo isso é a tarefa que atribui-se ao Neurodireito. A originalidade do artigo reside na recuperação das origens para o afastamento disciplinar, e as razões para sua superação, sempre dentro do contexto do Direito. Essa revisão evidenciou a tarefa de tornar todo esse conhecimento coerente, ou consiliente. Dentro das Ciências Jurídicas, essa é a tarefa do Neurodireito.

Palavras-chave


Neurodireito; Neuroética; Consiliência

Texto completo:

PDF

Referências


ARAGÓN, J. L. et al. Turbulent luminance in impassioned van Gogh paintings. Journal of Mathematical Imaging and Vision, v. 30, n. 3, mar. 2008, p. 275–283. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10851-007-0055-0. Acesso em: 20 fev. 2018.

BALL, Philip. The disturbed artist intuited the deep forms of fluid flow. Nature, 7 jul. 2006. Disponível em: https://www.nature.com/news/2006/060703/full/news060703-17.html. Acesso em: 20 fev. 2018.

BARRETT, Lisa Feldman. How emotions are made: the secret life of the brain. Boston; New York: Houghton Mifflin Harcourt, 2017. Chapter 11, p. 219-251.

BARRETT, Lisa Feldman; GROSS, James J. The Emerging Field of Affective Science. Portal Eletrônico da Association for the Psychological Science, Observer, 30 de setembro de 2013. Disponível em: https://www.psy-chologicalscience.org/observer/the-emerging-field-of-affective-science. Acesso em: 07 dez. 2017.

BRANDT, Anthony; EAGLEMAN, David. The runaway species: how human creativity remakes the world. New York: Catapult, 2017.

CARDOSO, Renato César. XXVI World Congress of Philosophy of Law and Social Philosophy. In: GALUPPO, Marcelo et al. (Ed). Human Rights, Rule of Law and the Contemporary Social Challenges in Complex Societies. Proceedings of the XXVI World Congress of Philosophy of Law and Social Philosophy of the Internationale Vereinigunf für Rechts- und Sozialphilosophie. Belo Horizonte: Initia Vida, 2015. p. 2454.

CASSESE, Sabino. La sonrinsa del gato, o de los métodos de estudio del Derecho Público. In: CASSESE, Sabino. Derecho Administrativo: historia y futuro. Sevilla (España): Global Law Press; Instituto Nacional de Administración Pública, 2014. Cap. 20, p. 385-397.

COELHO, Inocêncio Mártires. Apontamentos para um debate sobre o ativismo judicial. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 5, n. 2, 2015, Edição Especial - Ativismo Judicial, p. 3-22. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/3157/pdf. Acesso em: 24 jul. 2018.

COLLINI, Stefan. Introduction. In: SNOW, Charles Percy. The two cultures. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. p. 7- 21.

COYNE, Jerry A. Why evolution is true. New York: Penguin Books, 2010.

EAGLEMAN, David. Incognito: the secret lives of the brain. New York: Pantheon, 2011.

EAGLEMAN, David. The brain: the story of you. New York: Pantheon Books, 2015.

GAIMAN, Neil. The pornography of genre, of the genre of pornography. In: GAIMAN, Neil. The view from the cheap seats: selected nonfiction. New York (EUA): William Morrow; HarperCollins Publishers, 2016.

GALVÃO, Ciro di Benatti. Ativismo judicial: o contexto de sua compreensão para a construção de decisões judiciais racionais. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 5, n. 2, 2015, Edição Especial - Ativismo Judicial, p. 89-99. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/3101/pdf. Acesso em: 24 jul. 2018.

GOODENOUGH; Oliver R.; PREHN. Kristin. A neuroscientific approach to normative judgment in law and justice. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences. v. 359, n. 1451, p.1709-1726, 29 nov. 2004. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1693459/. Acesso em: 2 maio 2018. DOI: 10.1098/rstb.2004.1552.

GOULD, Jay Stephen. Can we complete Darwin’s Revolution? In: GOULD, Jay Stephen. Dinosaur in a haysack: reflections in natural history. Cambridge (Massachusetts, USA); London (England): The Belknap Press of Harvard University Press, 2011. p. 325-334.

GREENE, Joshua D. et al. An FMRI Investigation of emotional engagement in moral judgment. Science, Report, v. 293, n. 5537, p 2105-2108, 14 set. 2001. Disponível em: science.sciencemag.org/content/293/5537/2105. Acesso em: 02 maio 2018. DOI: 10.1126/science.1062872.

GREENE, Joshua. Moral tribes: emotion, reason, and the gap between us and them. New York: Penguin, 2013.

GREENE, Joshua; Cohen Jonathan. For the law, neuroscience changes nothing and everything. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences. v. 359, n. 1451, nov. 2004, p. 1775-1785. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1693457/. Acesso em: 02 maio 2018. DOI: 10.1098/ rstb.2004.1546.

HAACK, Susan. Irreconcilable Differences? The troubles marriage of science and Law. In: HAACK, Susan. Evidence Matters: science, proof, and truth in Law. New York: Cambridge University Press, 2014. p. 78-103.

HAIDT, Jonathan. The righteous mind: why good people are divided by politics and religion. New York: Vintage Books, 2012. HILTS, Philip J. Memory’s Ghost: the nature of memory and the strange tale of Mr. M. New York (EUA): Touchstone Books; Simon & Schuster, 1996.

KAHNEMAN, Daniel. Thinking, fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giraux, 2011. KAHNEMAN, Daniel; SLOVIC, Paul; TVERSKY, Amos. Judgment under uncertainty: heuristics and biases. Cambridge; New York, NY: Cambridge University Press, 1982.

KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Choices, values, and frames. New York: Russell sage Foundation; Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.

LACEY, Hugh. Valores e atividade científica 1. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2008.

LACEY, Hugh. Valores e atividade científica 2. São Paulo: Editora 34, 2010.

LALAND, Kevin N.; BROWN, Gillian R. Sense and nonsense: evolutionary perspectives on human behaviour. Oxford: Oxford University Press, 2002.

MORSE, Stephen J. New neuroscience, old problems: legal implications of brain science. Cerebrum, v. 6, n. 4, Fall 2004, p. 81-90. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15986539. Acesso em: 24 jul. 2018.

MORSE, Stephen. Avoiding Irrational NeuroLaw Exuberance: a Plea for Neuromodesty. Law, Innovation and Technology, v. 3, n. 2, 2011, p. 209-228. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.5235/175799611798204932?journalCode=rlit20. Acesso em: 24 jul. 2018. DOI: 10.5235/175799611798204932.

PETER, Christine Oliveira. Do ativismo judicial ao ativismo constitucional no Estado de direitos fundamentais. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 5, n. 2, 2015, Edição Especial - Ativismo Judicial, p. 64-87. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/3094/pdf. Acesso em: 24 jul. 2018.

RAMÓN Y CAJAL, Santiago. Recollections of my life. [S.l.]: MIT Press, 1989.

ROSKIES, Adina. Neuroethics for the new millenium. Neuron, v. 35, 3 jul. 2002, p. 21-23. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/S0896627302007638/1-s2.0-S0896627302007638-main.pdf?_tid=70263d0a-eab4-11e5-bd39-00000aacb35f&acdnat=1458049820_44ea706aaa9daf995136e443aa3955db. Acesso em: 15 mar. 2015.

RUSSELL, Stuart J.; NORVIG, Peter. Artificial Intelligence: a modern approach. 3. ed. Harlow (Essex, England): Pearson Education Limited, 2016.

SLOMAN, Steven; FERNBACH, Philip. The knowledge illusion: why we never think alone. New York: Riverhead Books, 2017. SNOW, Charles Percy. The two cultures. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

TARUFFO, Michelle. El proceso civil de “civil law”: aspectos fundamentales. Ius et Praxis, Talca, v. 12, n. 1, p. 69-94, 2006. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-00122006000100004. Acesso em: 14 set. 2016.

WAAL, Frans de. The age of empathy: nature lessons for a kinder society. New York: Harmony Books; Crown Publishing, 2009.

WILSON, Edward Osborne. Consilience: the unity of knowledge. New York: Vintage Books, 1999.

WILSON, Edward Osborne. Sociobiology: the abridged edition. 7th printing. Cambridge (MA, EUA); London (England); Belknap Press; Harvard University Press, 1998.

WILSON, Edward Osborne. The meaning of human existence. New York: Liveright Publishing Corporation, 2014.

WILSON, Robert A.; KEIL, Frank C. Preface. In: WILSON, Robert A.; KEIL, Frank C. (Ed.). The MIT encyclopedia of the cognitive sciences. Cambridge, Massachusetts (EUA); London, England: Massachusetts Institute of Technology, 1999. p. 13-14.




DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v8i2.5340

ISSN 2179-8338 (impresso) - ISSN 2236-1677 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia