Síndromes gripais e infecções por Sars-Cov-2 em pacientes usuários crônicos de antimaláricos (Hidroxicloroquina e Difosfato de Cloroquina)

Stephany Benelli Canal, Arthur Magno Bueno Teixeira, Ana Paula Monteiro Gomides Reis

Resumo


A evolução da pandemia de COVID-19 trouxe a necessidade urgente de pesquisas
sobre medidas eficientes para seu manejo clínico. Estudos prévios haviam demonstrando que
alguns antimaláricos (AM), como a cloroquina e a hidroxicloroquina, apresentam ação
antiviral efetiva contra determinadas linhagens. Ademais, estudos demonstraram que
pacientes portadores de doença reumática imunomediada (DRIM) apresentaram menor
incidência de COVID-19, outrossim os que desenvolveram a patologia, não evoluíram com
formas graves, mesmo apresentando outras comorbidades preditoras de pior desfecho
clínico. Por conseguinte, levantou-se a hipótese de um efeito protetor dos AM contra a COVID-
19. No atual cenário, ergueu-se uma intensa discussão sobre o assunto. Atualmente, o uso
profilático de AM foi desencorajado por estudos criteriosos. O presente estudo tem como
objetivo principal avaliar a frequência de sintomas gripais e COVID-19 em pacientes usuários
crônicos de AM em virtude do tratamento de DRIM. Metodologia: O trabalho é um
desdobramento do Projeto Mário Pinotti II, sendo um estudo de coorte transversal com grupo
controle a partir do recorte dos participantes referentes ao Distrito Federal. O tamanho
amostral foi de 638 pessoas, com n de 373 pacientes com DRIM e de 265 contactantes diretos
não portadores de DRIM - grupo controle. Ambos grupos foram entrevistados por meio de
contato telefônico semanal, sendo analisadas características sociodemográficas, detalhes do
uso dos AM, das doenças de base e de demais comorbidades. Também foram abordados
aspectos relacionados aos sintomas da COVID-19, de demais síndromes gripais, e dados
epidemiológicos em ambos grupos. Os dados foram armazenados na plataforma RedCap
online. Foram definidos como COVID-19 positivos aqueles com demonstração da infecção por
PCR em orofaringe ou sorologia confirmatória. Os dados levantados foram analisados com o
uso do software SPSS 20.0 e STATA 12. Resultados: O grupo de pacientes contou com 91,7%
de mulheres e 8,3% de homens, com média de idade de 45,5 anos. Quanto à co-habitação,
11,5% dos pacientes moram sozinhos/com mais um habitante e 88,4% moram com 2 ou mais
pessoas. As DRIM mais incidente foi Lúpus Eritematoso Sistêmico (60,4%). O espectro de
sintomas gripais avaliados entre os dois grupos mostrou comportamento distinto (p=0,019) -
pacientes com DRIM obtiveram maior frequência de 1 ou mais sintomas gripais (36,2% versus
24,9%). O grupo pacientes apresentou maior frequência de positividade para COVID-19 do
que o grupo controle (p<0,001). Não houve diferença no número de internações hospitalares
entre os grupos (p=1,000). Quanto a sintomas gripais que se correlacionam com
características epidemiológicas individuais - as quais diferiam entre os grupos - não houve
impacto na frequência dos sintomas (p=0,001). Por fim, os pacientes com DRIM apresentaram
frequência de sintomas gripais 66% maior do que o grupo controle. Discussão/conclusão:
Apesar de pesquisas prévias e de estudos realizados no início da pandemia demonstrarem
possível efeito protetor de AM contra a COVID-19 e suas formas graves, estudos mais recentes
e mais criteriosos desacreditaram esse uso, levando inclusive à revogação da aplicação de AM
no manejo clínico da doença pela FDA americana. Os resultados do presente estudo estão de
acordo com essa nova visão, pois foi evidenciado que não houve frequência menor de
desenvolvimento de síndromes gripais e de COVID-19 em pacientes usuários crônicos de AM
quando comparados ao grupo controle de contactantes intra-domicilares não usuários da
medicação.


Palavras-chave


hidroxicloroquina; cloroquina; síndrome gripal; COVID-19.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2020.8333

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