Transfobia, saúde mental e a subjetividade: um estudo de caso

Luise Matthke, Daniel Magalhães Goulart

Resumo


A transfobia é um fenômeno recorrente em nossa cultura e sociedade e está fortemente associada a processos de violência, discriminação, exclusão e silenciamento. Desse modo, Este trabalho surge com a inquietude de se tencionar e compreender a forma com que os serviços de saúde mental estão lidando com essas complexidades humanas e de como o transtorno mental, enquanto configuração subjetiva, se desdobra a partir de um tratamento que visa a ética do sujeito e em que se expressam as mais diversas formas de produções subjetivas, sejam elas individuais ou sociais. Nesse sentido, o objetivo central do trabalho foi compreender a configuração subjetiva do transtorno mental de um indivíduo que se considere transexual e que é atendido/a por um Centro de Atenção Psicossocial do Distrito Federal. Para tanto, foi utilizado o método construtivo-interpretativo, sustentado nos fundamentos da Epistemologia Qualitativa, articulado na Teoria da Subjetividade em uma abordagem cultural-histórica de González Rey. Em termos metodológicos, esta pesquisa fundamentou-se em uma imersão em campo de seis meses em um CAPS do DF e foram realizados dez encontros individuais com a participante. Nesse processo, a pesquisadora pôde participar de uma atividade do serviço e de conversas com alguns profissionais da equipe, que, gradualmente, foram tornando possível o contato com a participante do estudo de caso. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram diversas dinâmicas conversacionais, um exercício escrito e a apresentação de partes de filmes, seguidos por dinâmicas conversacionais logo após. Os resultados da pesquisa são apresentados em dois eixos temáticos: (1) Por que você condena alguém por não ser você?; (2) Desenvolvimento Subjetivo a partir da vivência em um CAPS. De modo geral, conclui-se que a configuração subjetiva do transtorno mental se organiza a partir de sentidos subjetivos gerados perante a complexidade da vida e seus processos singulares. Pôde-se vislumbrar os obstáculos e contrariedades que a vida muitas vezes impõe, mas, para além de pensar que necessariamente a transfobia vai em direção a existência do transtorno mental, percebe-se a singularidade e diversas formas de se organizar subjetivamente a partir de processos normatizadores e que geram sofrimento. Os serviços ofertados pelo CAPS, além das críticas relativas à sua prática, que muitas vezes, mantém a transfobia e objetificação de usuários, foram extremamente importantes no que diz respeito ao favorecimento de pessoas agentes de suas próprias vidas e ao enfatizar novas produções subjetivas no outro.

Palavras-chave


Transfobia. Saúde Mental. Subjetividade

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2019.7518

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