Fantasia, pulsão e poesia: para uma crítica ao primado da visão na psicanálise freudiana

Hugo Ramos Xavier Régis, Juliano Moreira Lagôas

Resumo


O objetivo geral desta pesquisa foi investigar o estatuto dos conceitos de fantasia e de
pulsão na teoria e na clínica psicanalíticas, buscando analisar suas bases epistemológicas à
luz da crítica promovida por Johann Gottfried Herder ao “primado da visão” no pensamento
ocidental, bem como extrair consequências teóricas e clínicas da tentativa, empreendida
pela filosofia estética desse autor, de restauração da experiência tátil como dimensão
fundante da sensibilidade humana e estruturante dos processos de subjetivação e de
constituição subjetiva. O desenvolvimento desta pesquisa - de natureza qualitativa,
documental e bibliográfica - se orientou pela estratégia metodológica do “trabalho do
conceito”. Essa estratégia metodológica se caracteriza pela tentativa de compreender um
conceito analisando os efeitos de sua relação com a rede conceitual na qual está inserido;
estendendo e forçando seus limites de aplicação; e testando sua resistência à variação das
condições de aplicabilidade, bem como a capacidade que ele tem de responder aos
problemas propostos. Ao final da pesquisa, pudemos alcançar os seguintes resultados. A
partir da afirmação freudiana de que a pele não só é a zona erógena por excelência (FREUD,
1905/2016, p. 68), como também é a responsável pelo caráter doloroso e cruel da pulsão
(FREUD, 1905/2016, p. 68), foi possível analisar a dimensão sádico-masoquista que a pulsão
adquire quando sua fonte é a pele, conseguindo-se, assim, delinear aquilo que seria a pulsão
de tocar. Diante desse caráter sádico-masoquista da pulsão parcial de tocar e do crédito
dado por Freud a um estranho costume segundo o qual é costumeiro o olhar substituir o
toque (FREUD, 1905/2017a, p. 141), propusemos uma leitura da série de relações
ambivalentes entre as pulsões parciais de ver/tocar, pulsões de conservação/sexuais e os
sentimentos de ódio/amor, tal como as encontramos em Pulsões e seus destinos (FREUD,
1915/2017b), como manifestação deste costume freudiano de substituir o toque pelo olhar.
De outra parte, por meio de uma revisão bibliográfica das obras Primeiro bosque crítico
(1769/2018) e Plástica (1778/2019), de Herder, pudemos analisar detidamente sua
concepção de poeta, o que, mais adiante, se revelou um caminho fecundo no sentido de
interrogar o primado da visão presente na descrição freudiana do fenômeno da
transferência como a atualização de imagos parentais na pessoa do analista. Lançando mão
de uma concepção estendida de poeta, Herder leva em conta não só o aspecto visual do
fantasiar poético (a imagem, o pintor e a pintura), como também seu aspecto tátil (o corpo,
o escultor e a escultura). Assim, foi possível redimensionar os aspectos estéticos da prática
psicanalítica, pensando a transferência também a partir do seu aspecto tátil, da arte
escultórica. Evidenciou-se, assim, o potencial criativo da dinâmica transferencial, na qual o
analisando é levado a deslocar-se, a fazer circular o desejo através da associação livre, a dar
voltas em torno de suas fantasias fundamentais, como se estivesse diante de uma escultura.


Palavras-chave


Freud. Herder. Tato.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2019.7494

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